sexta-feira, 23 de abril de 2010

Post escrito a sangue frio

viajemos:

Uma enfermeira chega e dá a notícia para a família:
"Senhora Santos? Infelizmente o seu marido não aguentou a cirurgia."
Tristeza, tristeza, tristeza, alívio, tristeza.
No quarto, a viúva toca, em meio a lágrimas, o rosto de seu marido pela última vez.
"Não posso acreditar. Ele ainda está quente!"

Frio = Morte,
Calor = Vida?

Deixemos considerações práticas de caráter homeostático fisiológico de lado (é sabido que a temperatura do corpo humano deve variar de 36 ºC à 37 ºC). Senão corremos o risco de perder a vida fria.

O frio desperta uma vida de um corpo muitas vezes adormecido em um calorzinho confortável, enquanto a vida vivida não pede conforto. Nascemos do desconforto, e nesse sentido, o calor também pode remeter à morte, ou à ausência de vida. Quem não deseja, numa situação de estar passando frio, acima de tudo chegar em casa, tomar um banho quente e deitar-se? Voltar ao útero?

Sentir o frio,
finíssimas agulhas gélidas que penetram cada poro de nossa pele,
piercing its way through, visando nossas vísceras;
dando trepidação colérica às nossas couraças;
Enturvando a imagem que Narcíso vê, pois água congelada não reflete, senão distorcidamente.
A respiração fica difícil, doída, assim, percebemos que respiramos. respire.

E quando o frio começa a ser uma ameaça à limitante homeostase começamos a perder a vida, ou a concentrá-la. Primeiro as extremidades; a dizer, além do já conhecido efeito do frio em certas extremidades, perdemos os dedos,
covardes!
Os primeiros a deixar o barco. Ficam brancos, roxos, sem sensibilidade.
claro, isso é para manter a temperatura dos chamado órgãos vitais.
Alguns diriam: Mártires!
Pra mim, covardes!

Penso:
talvez para o escritor fosse mais interessante o oposto, que os dedos ficassem róseos, os últimos a ceder à cianurose glacial, para que fosse possível escrever sobre a vida no momento que ela está em um de seus ápices.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Canto pelo direito de não cantar

Sim,
canto apenas (e somente apenas) porque posso me permitir não cantar.
Tudo aquilo que é dito no silêncio,
tudo que se perde no entendimento racional e racionalizante de quem teme apenas a dominação das palavras.
Cegos para o som dos gritos mudos.
Surdos para tudo aquilo que não se permite sensacionalizar, que não move massas.
O sublime, o suave, o cruel justo.
O arrepio de cada manhã amada.
O espaço que o nada preenche, esvazia.

Sem uma finalidade eu canto,
nem sempre em cima de palanques -
o belíssimo canto dos cantos.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Vinny Days, BABY!

Recentemente fui questionado sobre o porquê de me anunciar como Vinny Days, e não Vinicius Dias (como era meu nome de batizo).
Na hora que fui questionado nem liguei, achei que não era grande coisa. Apesar da importância que dou para o nome.
Talvez tenha sido exatamente por causa dessa importância que, posteriormente, o assunto voltou a pensar sobre mim; a conclusão que cheguei, em pleno Expresso Brasileiro, já chegando em Santo André, foi preciosa a tal ponto que a escrevo aqui:
Vinicius Dias foi o nome que meus pais me deram ao nascer. Vinny Days foi o que eu criei a partir daí.
Agradeço a eles por Vinicius, mas ele não existe mais, em seu lugar está Mr.Days. Esta que é minha criação da qual tenho mais orgulho, minha obra prima em progresso.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Castração Complexa

Talvez seja desnecessário iniciar esse texto apontando seu parentesco com o famoso complexo de castração de Freud, portanto iniciarei destacando suas diferenças;

A começar não falo em medo, em ameaça, falo na perda do falo de fato.
Essa perda não ocorre na infância, em geral, e sim na faixa entre os 20 e 30 anos. (Quando digo "em geral", quero dizer que ela pode ocorrer em qualquer estágio da vida, estou apenas destacando o período no qual mais vejo isso acontecer, mas ficará claro que isso também é, quase que exclusivamente, pela situação social em que me localizo).

A faixa dos 20 aos 30 anos é terrível! Tão terrível que pra sair dela muitos não veêm outra saída senão virar seus pais. Pronto, se essa é sua decisão, estás castrado!
Até sairmos no colégio sonhamos. Vamos ser engenheiros, médicos, advogados. Vamos sair aos sábados com a galera. A felicidade, que normalmente é acompanhada pela sensação de liberdade nos trai.

Primeiro, fazer a faculdade:
Missão terrível de conformidade com limites da chamada ciência, com os métodos, com as burocracias; se você quer ser alguém tem que fazer mestrado, pra isso tem que fazer IC, ou seja, não há espaço para criações em uma universidade, apenas para copiações, estuda-se o que já se sabe e o que não se sabe, recorta-se nos moldes que são aceitos. Mas aceitos por quem? Se aquilo é novidade como alguém pode saber como demarcar sua linguagem? Fingi-se o novo: Porque pesquisar o efeito de antidepressivos tricíclicos em ratos albinos é diferente do que em camundongos albinos. Quanta inovação, não?
E esse é o limite, a fronteira permitida. A grande questão castradora aqui é essa. Torne-se residente do território científico ou seja um pária acadêmico! É o nacionalismo fictício. Em uma nação inventada e formada excluvisamente por castrados castradores.

Uma alternativa? Jogar tudo isso para o alto! Graduar-se de maneira única, de maneira própria, seguindo seus conceitos ético-estéticos. Até o fim da faculdade incontáveis tentativas de passar a faca em seu pipi vão ocorrer, o mais triste, em geral são seus próprios amigos que tentam fazê-lo. Oras, nada mais justo, seu amigo que gosta de um bom laboratório, tem que trocar a serragem de ratos todo dia, passa fins de semana fazendo planílias sobre os resultados, tem todo o trabalho que sabemos que de fato a ciência exige do cientista. De repente ele olha pra você: feliz?! Como pode? Você consegue ir à praia e ainda assim tira boas notas, acompanha as matérias apesar de faltar quase que metade das aulas? E o esforço dele? De que valeu tudo aquilo? Ele precisa de garantias! Então fazem congressos para mostrar seu valor uns para os outros. E no fim de tudo perguntam "e ae, como andam as coisas na faculdade?". Quer uma tentativa maior de castração que essa?

Se você ainda conseguiu superar tudo isso vem a mais óbvia de todas, que engloba não só os universitários, mas todos, de uma forma ou de outra: o dinheiro!
Adolescentes de uma forma ou de outra querem uma liberdade, que não é possível, até mesmo pela impossibilidade de dirigir um carro ou moto até os 18. Então esperamos...ansiosamente...pelo dia que poderemos fazer o que quisermos!
Não não. Não pode!
Não é a toa que seus pais são infelizes, que eles não tem vida, que parecem apenas estar sentados, deitados, esperando a morte chegar. Eles foram castrados!
Não vou me extender nessa explicação pois ela é tão difundida que chega a ser clichê.
Para ser livre precisa de $ -> para ter $ precisa trabalhar -> trabalhar consome todo o tempo e energia que uma pessoa comum está disposta a gastar.

Solução?
A busca por uma solução deve ser o maior obetivo de uma vida, principalmente se você tem entre 20 e 30, pois o que tenho observado é: se até os 30 você não achou a tal solução, a tendência é parar de buscar. Sabe, isso cansa!
Nadar contra a maré.
Pensar, ao invés de obedecer.
Ser diferente, invoar, criar.
Ser motivo de piadas omissas.

Quem sabe os falo ainda não se juntem. Não para algo em específico, mas para se potencializar e realizar sua acesse sobre as guilhotinas que tanto querem suas glandes.
Assim, os párias não precisariam andar com suas cabeças baixas e seus olhos cansados. A menos que queiram.

Hexapode

Como podem existir tais criaturas?
Tão solicitas a nos dar carinho,
talvez a único coisa que realmente os aborreça seja a impossibilidade de fazê-lo.
Como pode?
E o sentimento de tentar levar vantagem? De parecer mais que os outros? De exclusividade?
Eles, essas criaturas, não. Pra elas, a única coisa que basta é ser dois; seis pernas lado a lado.
É assim que eles vivem.
Isso sim que é vida!